Poemas:
Do Amoroso Esquecimento
“Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?”
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?”
O verdadeiro amigo
“Compreenda.
Releve.
Nunca abandone
o verdadeiro amigo.
Ele pode nem estar
ao seu lado agora.
Mas certamente,
estará sempre contigo.”
“Compreenda.
Releve.
Nunca abandone
o verdadeiro amigo.
Ele pode nem estar
ao seu lado agora.
Mas certamente,
estará sempre contigo.”
Aula de Leitura
“A leitura é muito mais
do que decifrar palavras
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender
vai ler nas folhas do chão
se é outono ou verão;
nas ondas soltas do mar
se é hora de navegar;
e no jeito da pessoa
se trabalha ou se é à-toa
na cara do lutador,
quando está sentindo dor;
vai ler na casa de alguém
o gosto que o dono tem;
e no pêlo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;
e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou se vai lento;
e também no calor da fruta,
e no cheiro da comida,
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo,
e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso,
vai ler nas nuvens no céu,
vai ler na palma da mão,
vai ler até nas estrelas,
e no som do coração.
Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos tem segredos
difíceis de decifrar.”
do que decifrar palavras
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender
vai ler nas folhas do chão
se é outono ou verão;
nas ondas soltas do mar
se é hora de navegar;
e no jeito da pessoa
se trabalha ou se é à-toa
na cara do lutador,
quando está sentindo dor;
vai ler na casa de alguém
o gosto que o dono tem;
e no pêlo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;
e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou se vai lento;
e também no calor da fruta,
e no cheiro da comida,
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo,
e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso,
vai ler nas nuvens no céu,
vai ler na palma da mão,
vai ler até nas estrelas,
e no som do coração.
Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos tem segredos
difíceis de decifrar.”
Ricardo Azevedo
Dialética “É claro que a vida é boa E a alegria, a única indizível emoção É claro que te acho linda Em ti bendigo o amor das coisas simples É claro que te amo E tenho tudo para ser feliz Mas acontece que eu sou triste...” Vinícius de Moraes Os Anjos “Os anjos criaturas de encantamento habitam meus pensamentos. O que podem os anjos, de mãos azuis, fazer por nós, simples humanos? O que podem, com seu hálito de estrelas, o céu nos olhos e uma enorme compreensão para com nossos corações fatigados? Que um anjo durma sempre ao meu lado e faça com seu silêncio o tecido dos meus sonhos.” Roseana Murray A Mãe “A mãe é uma árvore e eu uma flor. A mãe tem olhos altos como estrelas. Os seus cabelos brilham como o sol. A mãe faz coisas mágicas: transforma farinha e ovos em bolos, linhas em camisolas, trabalho em dinheiro. A mãe tem mais força que o vento: carrega sacos e sacos do supermercado e ainda me carrega a mim. A mãe quando canta tem um pássaro na garganta. A mãe conhece o bem e o mal. Diz que é bem partir pinhões e partir copos é mal. Eu acho tudo igual. A mãe sabe para onde vão todos os autocarros, descobre as histórias que contam as letras dos livros. A mãe tem na barriga um ninho. É lá que guarda o meu irmãozinho. A mãe podia ser só minha. Mas tenho de a emprestar a tanta gente... A mãe à noite descasca batatas. Eu desenho caras nelas e a cara mais linda é da minha mãe.” Luísa Ducla Soares Uma Palmada Bem Dada “É a menina manhosa Que não gosta da rosa, Que não quer A borboleta Porque é amarela e preta, Que não quer maçã nem pêra Porque tem gosto de cera, Porque não toma leite Porque lhe parece azeite, Que mingau não toma Porque é mesmo goma, Que não almoça nem janta porque cansa a garganta, Que tem medo do gato E também do rato, E também do cão E também do ladrão, Que não calça meia Porque dentro tem areia Que não toma banho frio Porque sente arrepio, Que não toma banho quente Porque calor sente Que a unha não corta Porque fica sempre torta, Que não escova os dentes Porque ficam dormentes Que não quer dormir cedo Porque sente imenso medo, Que também tarde não dorme Porque sente um medo enorme, Que não quer festa nem beijo, Nem doce nem queijo. Ó menina levada, Quer uma palmada? Uma palmada bem dada Para quem não quer nada!” Cecília Meireles Sonhos da Menina “A flor com que a menina sonha está no sonho? ou na fronha? Sonho risonho: O vento sozinho no seu carrinho. De que tamanho seria o rebanho? A vizinha apanha a sombrinha de teia de aranha... Na lua há um ninho de passarinho. A lua com que a menina sonha é o linho do sonho ou a lua da fronha?” Cecília Meireles Ou isto ou aquilo. Ou se tem chuva e não se tem sol ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares! Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro! Não sei se brinque, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.” Cecília Meireles Caixa de Brinquedos “No meio da sala Um furacão. A caixa de brinquedos Esparramada no chão. — Pedrinho essa não! — Mãe querida Foi sem querer. — Não quero nem saber. — Eu vou arrumar, tudinho. — Rapidinho! E o menino se pôs A encaixotar: Uma velha fieira Um pião sem ponteira. Um cavalo de pau sem crina Uma furada piscina. Uma motocicleta sem corda Um carrinho sem roda. Um relógio sem ponteiro Um uniforme de escoteiro. Um velho gibi Uma perna de siri. Um boneco perneta Uma onça sem cabeça. Uma caneca de plástico Uma atiradeira de elástico. Um cachorro de pelúcia Um saco cheio de astúcia. Um escudo do Vasco Um pirulito gasto. Um grilo falante Um pente sem dente. Uma peteca sem pena Uma pena de pavão. Uma bola de gude Um papel de bala ruth Um time de botão sem goleiro. Um alçapão sem poleiro. Um balão japonês sem bucha. Um retrato da Xuxa. Um santinho da primeira comunhão. Um pequenino coração. Um tênis surrado Um chiclete grudado. Um pouco de malcriação Uma porção de perdão. Vários não espalhados Só um sim encontrado. Uma lágrima esquecida Muitos sorrisos achados. Um beijinho de avó Uma moedinha do avô. Uma receita do doutor Um remédio que expirou. Um mau humor de pai Um carinho de mãe. Na caixa tudo vai. Uma pequena criança Uma grande criação. — Mãe, acabei. A mãe o abraça e sorri.” Rô Fonseca Coisa Boa“Coisa boa é empinar pipa no pasto. Para não se perder no infinito, o olhar se prende no rastro colorido que o rabo da pipa pinta no céu. A pipa é só um pontinho lá longe em cima da linha do horizonte. Coisa boa é a hora do banho pra eu me fazer de marinheiro e transformar em mar a água do chuveiro. Rodo vira remo, tapete vira barco, e o banheiro... fica um charco! Coisa boa é correr atrás de uma galinha-d’angola. Ela diz que está fraca, mas dá uma baita canseira. Parece que joguei bola a manhã inteira! Coisa boa é descansar num tapete macio de folhas e grama. Mastigar um talo de cana, ouvindo o uivo do vento e o burburinho do rio.” Sônia Barros Doce Criança “Cabelo de chiclete Cara de chocolate Nariz de grapette Blusa de molho Calça de gelatina Dedo de bolo Meia de mostarda Sapato de quimdim Festa de criança É assim.” Rô Fonseca Transformações da natureza “Pintaram o burro De preto e branco Ele virou zebra. Deram fermento a minhoca Ela virou cobra. Enfeitaram o peru Ele virou pavão. Pintaram o galo De preto Ele virou urubu. Pintaram o gafanhoto De verde Ele virou esperança. Pintaram o ganso De branco Ele virou cisne. Esticaram a lagartixa Ela virou jacaré. Encheram o porco De espinhos Ele virou ouriço. Pintaram uma floresta No lugar da queimada A natureza em festa Agradece emocionada.” Rô Fonseca Homenagem Juvenil “Como simples homenagem, Trazemos-te esta mensagem, Que emanou do coração: Merece o maior respeito Tudo o que por nós tens feito, Com tanta dedicação. És símbolo exemplar: Tens-nos sabido guiar Sempre pelo bom caminho! Como amigos dedicados Trazemos-te, emocionados, Esta prova de carinho! Cumprir a lei de escoteiro É tentar ser o primeiro A mostrar-te gratidão! Destruir inimizades, Sorrindo às dificuldades, Nem todos conseguirão! Quando abandonas o lar Para melhor abraçar O nosso belo escutismo! Deus há-de ter isso em conta! É Ele que em ti desponta Esse teu nobre heroísmo! É com enorme alegria Que aqui estamos, neste dia, Crê, com boas intenções. Saberás compreender O calor que há no bater Destes nossos corações! Mais que chefe, és bom amigo: E, quando estamos contigo, Não conhecemos fraqueza! Andam perfumes no ar. E como é bom penetrar Mais de perto a Natureza! Como mestre dedicado Muito nos tens ensinado, Sorridente, sem canseiras. Tu sabes, como ninguém Fazer-nos homens de bem, Mesmo em nossas brincadeiras… Que adianta dizer mais?! Sendo, enfim, simples mortais, Podemos gritar, sem medo: Bem hajas, eternamente! Apoia esta pobre gente! És nosso, chefe Macedo!” Francisco Quarta
“Procura-se com urgência Rei com flor vermelha na lapela Capitão carregando no bolso mais de mil amores Soldado caminhando pelas ruas oferecendo ilusão Ladrão brincando de esconde esconde com o coração. Quando encontrá-los venham correndo, correndo depressa, depressa pra moça bonita se alegrar numa canção. Rei Capitão Soldado Ladrão Moça Bonita Do meu Coração. Assim vive a moça bonita bordada de sonhos azuis. Cá com meus botões A quem ela dará seu coração? Rei Capitão Soldado Ladrão.” Lenice Gomes A Boneca “Deixando a bola e a peteca, Com que inda há pouco brincavam, Por causa de uma boneca, Duas meninas brigavam. Dizia a primeira: "É minha!" — "É minha!" a outra gritava; E nenhuma se continha, Nem a boneca largava. Quem mais sofria (coitada!) Era a boneca. Já tinha Toda a roupa estraçalhada, E amarrotada a carinha. Tanto puxaram por ela, Que a pobre rasgou-se ao meio, Perdendo a estopa amarela Que lhe formava o recheio. E, ao fim de tanta fadiga, Voltando à bola e à peteca, Ambas, por causa da briga, Ficaram sem a boneca...” Olavo Bilac |
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